sexta-feira, 8 de abril de 2011

As cores da compaixão


 

Numa palestra no Fórum Espírita de Pernambuco, em 2004, o Lama Padma Samten falando sobre compaixão e amor, disse não se tratar apenas de sensações, mas de formas de inteligência, e fez uma comparação:
“Digamos que alguém olha para uma planta que se encontra num vaso dentro da casa. Pelo olhar compassivo, em vez observar se gosta dela ou não, pergunta como é que ela se sente sem a luz do sol, a água da chuva e sem as suas plantas amigas e companheiras.
Quando olhamos uma planta pensando se gostamos ou não, nossa mente opera obstruída pela sensação de gostar ou não gostar.
Uma inteligência maior é olharmos para aquela planta perguntando do que ela necessita. E mais do que isso, nós podemos olhá-la e ver com os olhos do bom jardineiro quais as flores e frutos que essa planta tem escondida dentro dela, e que ela mesma não sabe.
Quando em algum momento da nossa infância, alguém (nossos pais, professores ou qualquer outra pessoa) nos olhou e viu em nós as sementes e flores que tínhamos dentro de nós e não sabíamos, fazendo isso, amorosamente umedeceu a terra onde vivíamos para que pudéssemos crescer e nos desenvolver. A essa capacidade, essa inteligência de olhar o outro e reconhecer nele qualidades positivas, a isso, no budismo, chamamos de amor.
Olhar o outro e ver o que afeta a existência dele, para nos manifestarmos de forma positiva para remover os obstáculos, isso é compaixão. Para promover as qualidades positivas, isso é amor.”
Disse ainda o Lama:
“Através de cinco cores nós podemos praticar a compaixão.
Às vezes nós somos seletivos com a compaixão. Podemos ser compassivos com qualquer um, mas não com quem cria guerras ou despeja bombas. Então começamos a olhar de forma seletiva, e eu preciso informar que no sentido budista não há limite para a compaixão. Mas para isso precisamos entender que muitas vezes ela não pode ser simplesmente concordância com o outro.
Existem cinco formas de compaixão apresentadas pelo budismo, através de cinco cores.
A primeira é o azul. Através dessa cor nós olhamos para o outro e o acolhemos, e também perguntamos, quais as flores e frutos escondidos nesse ser.
Temos a compaixão amarela, de um amarelo-dourado, que significa generosidade, riqueza, meios. Então, quando vamos ajudar alguém nós podemos não somente ouvi-lo, entendê-lo, aspirar o bem, mas podemos eventualmente fazer algo mais.
Vamos supor, como acontece lá no sul, de tanto em tanto, que o rio subiu e a casa foi destruída. A gente pode visitar o desabrigado e dizer: você não se preocupe tanto... isto passa. É uma boa ajuda, mas com a cor amarela podemos auxiliar para que passe mais rápido, oferecendo um suporte prático.
Depois temos a cor vermelha, que simboliza o eixo. Ela vem da sedução, daquilo que nos encanta. Então, que possamos produzir no outro um encantamento positivo, um eixo positivo. Assim, a cor vermelha vai nos ajudar a dizer àquela pessoa que é melhor não reconstruir a casa no mesmo lugar porque o rio pode subir de novo. Dessa forma, muitas vezes não basta que a gente ajude o outro a reconstruir, mas que o ajude a fazê-lo numa situação melhor. Para isso precisamos da sabedoria dos eixos. Para os nossos filhos não podemos abdicar disso. Não precisamos impor os eixos, eles não são impostos. Mas se dissermos: eu não devo ajudar o outro a criar uma estrutura positiva, um referencial positivo, estaríamos nos omitindo e isso seria uma atitude sem compaixão.
Então, é muito necessário que a gente repita as palavras dos grandes mestres, que viva essas palavras, estude isso e entenda, e possa ajudar os outros a compreender como viver melhor. Se não ajudarmos ou outros nesse sentido, isso será uma falha da nossa compaixão.
No entanto não bastam essas três formas.
Há um momento em que vemos uma criança puxando uma toalha com uma leiteira de leite fervente em cima. Se não gritarmos, a criança puxa e se machuca. Quando gritamos nós não nos opomos à criança. Nós estamos a favor dela. Quando dizemos, não faça isso, nós interrompemos uma ação negativa. Então muitas vezes é necessário manifestar o que se chama a cor verde. No budismo isso é chamado “a família karma”, onde vemos a negatividade surgindo e a obstruímos. Nós nos impomos diante da negatividade, interrompendo-a. Não somos contra a pessoa, somos a seu favor.
E há ainda a cor branca, a culminância da compaixão, porque ainda que eu acolha, ainda que propicie meios, ainda que ofereça eixos, ainda que obstaculize a negatividade, se não revelar a natureza ilimitada, não tive a compaixão, a generosidade, a amorosidade de descobrir essa natureza ilimitada e oferecer às outras pessoas, então as outras compaixões são muito menores, são quase sem sentido.
O que dá sentido à vida é que todos marchamos para a consciência da natureza última e vivemos inseparáveis disso. A nossa vida não teria culminância, não teria completude, sem a cor branca aonde nós reconhecemos a natureza ilimitada. Então, a compaixão maior é podermos oferecer aos outros essa natureza." 

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